Como o paradigma “eu sempre fiz assim” quase fez com que meus pais não aprendessem a fazer um arroz soltinho e gostoso.
Há meses que ouvia uma reclamação diária da minha mãe: desde que veio para Portugal, não conseguia fazer um arroz soltinho como sempre fez.
Não era brincadeira, eu ouvia isso TODO OS DIAS! O arroz não ficava ruim, ele ficava meio papado. Já que como mais vezes arroz sempre com feijão (brasileira, né?), não me incomodava.
De tanto ouvir a reclamação, tirei um tempo e fiz o arroz como minha própria mãe me ensinou. Do mesmo jeito que sempre fiz e pimba! O arroz ficou papado. Realmente temos um problema gastronômico aqui.
Fiz a seguinte pergunta a minha mãe:
– Mãe, você já tentou fazer alguma coisa diferente pra ver se o arroz fica bom?
A resposta, já com tom de irritação:
– Não. Eu sempre fiz assim. O problema é o arroz.
Insisti:
– Mas mãe, se é o arroz por que nos restaurantes o arroz fica solto?
Resposta:
– Porque o arroz do restaurante é especial, não é o mesmo que vendem no mercado.
Err… Melhor eu parar de insistir com Mommy, né? Arroz julgado e condenado sem dó!
Bora encontrar a solução!
É aqui que a Gestão de Mudança entra em ação
O processo de fazer o arroz aprendido pela minha mãe, que foi ensinado a ela pela minha avó e que, obviamente, foi a forma que aprendi, foi repetido por ela desde sempre. É compreensível que ela resista e coloque a culpa em outros fatores. Por isso, tentar fazê-la mudar de ideia não foi uma tarefa fácil.
Por isso decidi, junto com eles, encontrar uma forma de resolver o problema do arroz papado.
O que foi feito?
Decidimos fazer algumas tarefas simples:
– Perguntar ao máximo de pessoas possível a maneira como fazem o arroz.
Perguntamos a conhecidos e até mesmo em restaurantes, com ajuda e boa vontade dos atendentes que foram perguntar as cozinheiras o método de preparo.
– Ler receitas na internet
Aqui seria para também descobrir algo novo ou algum ingrediente adicional. Anotamos uma ou outra forma diferente de preparo, mas nada muito especial foi encontrado.
– Assistir a programas de gastronomia
Essa parte ficou mais para mim, já que adoro assistir MasterChef e o canal 24Kitchen. Em um desses programas, notei algo que poderia resolver o nosso problema.
Resultado das Tarefas
Com todas as informações anotadas, começamos o processo de teste, onde em cada preparo tentávamos adicionar um ingrediente ou mudar o método de preparo.
Depois de algumas boas tentativas, finalmente conseguimos preparar um arroz soltinho. A única mudança foi por o arroz seco e água quente. Para muitos vai parecer óbvio, mas é fato que nunca tínhamos feito arroz dessa maneira.
O importante é que o problema foi resolvido e depois de alguns “workshops” papai e mamãe já fazem o arroz soltinho com o novo processo.
Qual a moral da história do arroz?
Relatei um problema doméstico real que rapidamente me levou a pensar na dificuldade de mudança que ocorre em ambientes corporativos. Neles, na maioria das vezes, a mudança é imposta, sem a consulta dos colaboradores.
Muitos esquecem que por trás de todo processo existe o ser humano e quem lidera deve ter a sensibilidade de perceber o motivo de uma possível resistência a mudança. Pode ser medo, desmotivação, falta de mais detalhes sobre o novo processo e por aí vai.
“Não se pode fazer o trabalho de hoje com métodos de ontem para estar no negócio amanhã.”
– Horatio Nelson Jackson
Envolver as pessoas no processo de mudança é fundamental para uma melhor aceitação. No caso dos meus pais e o arroz, foi mais fácil para eles por a culpa no arroz do que tentar resolver de fato o problema. Talvez por já serem “setentões”, eles se achavam incapazes de conseguir, mas quando propus a participação deles na busca pela solução, eles mudaram a atitude. Me ajudaram nas “entrevistas” e nos testes de preparo e hoje dizem orgulhosos que resolveram o problema.
E deu tão certo que agora querem criar uma nova forma de montar o Presépio. Que comece o brainstorm!
Beijo grande e até o próximo artigo!